A morte é a única certeza da vida...


Não nascemos sabendo disso, mas também não demoramos muito a aprender... E confesso que é um pouco (muito) assustador. Principalmente porque, mesmo sabendo, só nos lembramos de nossa condição de "passageiros" quando nos vemos perto do trem (ou dentro dele) e só temos tempo de tentar sair dele ou pedir para que a viagem não comece ainda...

Tenho tentado não me lembrar de que estou passando por essa fase. Mas não é fácil esquecer. Sempre acreditei - e continuo acreditando - que ninguém morre de véspera (só peru e, mesmo assim, no Natal). Ficava repetindo isso para todos os motoristas, repórteres, estagiários e fotógrafos que trabalhavam comigo antes de entrarmos em algum morro ou favela. Fosse para acompanhar incursões policiais ou para cobrir homicídios, ou fazer qualquer outra matéria.

Confesso também que nunca me vi morrendo durante o trabalho. Na verdade, desde bem pequena, sonhava com minha morte durante a queda de um avião. Sei que o que vou escrever é ridículo, mas Deus não me deu asas e eu nunca tive vontade de voar. Nunca entrei em um avião - e nem pretendo (apesar de ter muita vontade de conhecer o Japão e ter a oportunidade de ir a um rodízio japonês "fresquinho"... rs) -, portanto não tenho como explicar esse meu "medo". Talvez Freud...

Às vezes fico pensando como são felizes as pessoas que "morrem como passarinho": dormindo, sem medos, ansiedades, preocupações. Como são felizes as que morrem no cumprimento do dever, fazendo aquilo de que gostam, sabendo que corriam aquele risco, mas sem a certeza de onde e como seria. Como são felizes as que morrem sabendo que vão morrer, tendo tempo para despedidas, aproveitando oportunidades para fazer escolhas sem dúvidas, sem arrependimentos.

E fico pensando como é triste se descobrir doente, mas sem conseguir saber a causa, os motivos, o porquê. Aí relembro quando ouvia as pessoas dizendo que quanto mais cedo o tratamento, melhor. Mas como começar um tratamento sem diagnóstico? E aí surgem os questionamentos... Será grave? Se tornará grave por causa dessa demora? Terá cura? Terá pelo menos tratamento?

E você se descobre grávida. E surgem os médicos dizendo que a prioridade deles é tratar a mãe. Mas a prioridade de qualquer mãe é proteger e cuidar do filho. Mesmo que ele ainda tenha poucos milímetros. E a gente nem pensa no tamanho quando ouve o som daquele coraçãozinho - tão pequeno, mas tão forte - batendo dentro da gente.

É uma questão que me balança: como me sentir tão perto da morte e ao mesmo tempo de uma nova vida?


Comentários

  1. Oi Roberta,
    Achei linda a sua declaração de que a prioridade da mãe é sempre o filho, embora a dos médicos seja a da mãe. Estou torcendo e rezando por você. Parabéns pela coragem.
    bjs,
    Luisa.

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